Terça-feira, 28 de Novembro de 2006
Eu sei que posso cair na redundância e, consequentemente, ser repetitivo.
Mas que diabo, eu não tenho culpa.
Acontece que esta experiência de ser pai modifica mesmo a percepção que temos do Mundo!
Mesmo aquelas coisas que conhecemos desde sempre sofrem, de uma maneira ou de outra, alguma alteração.
Mesmo as coisas mais inocentes como... um biberão.
É verdade! Por estes dias descobri que afinal o biberão é "má rês".
Estava eu fiadinho que aquilo era um objecto no qual se podia confiar e que dali não viria qualquer mal... pois sim!
Aquilo é uma arma do demo muito bem engendrada.
Está ali caladinho meses a fio, ganha-nos a confiança e depois... zás, uma naifada nas costas que nem nos deixa dizer "água vai". Ataca pela calada, é bicho perigoso este...
O que se passou foi o seguinte: o sacana do biberão estava mesmo ali ao lado do micro ondas, prontinho para a refeição da pequena antes de a pôr a dormir.
Esta delicada tarefa é normalmente executada por mim, numa daquelas rotinas que a cachopa nos impôs.
Bom, lá fui buscar o pacote de leite e comecei a colocá-lo dentro do biberão.
Uns segundos depois (mais exactamente 200 cl. depois) comecei a ver um bocadito de leite a vazar do fundo do biberão.
Inteligente, pensei:
"Humm .... a rosca do fundo não está bem apertada."
Mas depois, com o modo "olho-de-lince " activado é que vi bem: a peça do fundo do biberão não estava lá!
Qual rosca mal apertada, qual carapuça.
Não havia peça de todo, como é que eu me podia estar a queixar da rosca?
E foi aí que eu vi tudo: o sacana daquele biberão sabia!
O gajo sabia que não estava completo.
E estava a rir-se na minha cara.
Deve ter andado a planear aquele momento durante meses e agora estava ali a gozar plenamente o seu triunfo.
Saboreava a minha atrapalhação toda a andar de um lado para o outro, feito barata tonta, a tentar encontrar uma maneira de (literalmente) "não chorar sobre leite derramado", enquanto a poça ia alastrando pela balcão fora...
Mas que mal é que eu te fiz, biberão? Deixei-te mal lavado algum dia, foi? Deixei-te cair ao chão?
Escusas de me olhar agora com esse ar de "carneiro mal morto", que a mim nunca mais me apanhas: antes de te usar novamente vou ver bem se tens todas as peças.
Sábado, 25 de Novembro de 2006
Caro Pai Natal,
De hoje a um mês é Natal.
Partindo dessa premissa tomei a liberdade de lhe dirigir esta carta.
Como já deve ter reparado iniciei-a com “Caro pai Natal” e não com “Querido Pai Natal”, ou seja estou certo que esta carta começa de forma bem diferente dos outros milhões de cartas que deve começar a receber por esta altura.
Espero que esse seja sinal mais que suficiente para que perceba que o assunto é sério.
E não, não estou louco. Eu sei que já não lhe escrevia há muitos anos, mas é que andaram tanto tempo a dizer-me que não existia que acreditei.
Só que agora com o nascimento dos meus pequenitos você voltou em força.
Afinal, fui enganado durante muitos anos. Adiante…
O que lhe quero dizer de forma muito veemente é o seguinte: você desilude-me!
Desilude-me porque no fundo você é um bocado como o Emplastro.
Aparece assim sem ninguém saber como e de repente não deixa ver mais ninguém.
É evidente que eu estou a falar do menino que faz anos a 25 de Dezembro.
Diga-me lá: conhece algum miúdo que no seu aniversário tenha ajuda de alguém e esse alguém de repente se torne mais importante que o aniversariante, ficando este contente?
Eu não conheço nenhum. Aliás até conheço uns poucos que eram capazes de resolver o assunto à biqueirada e ao bofetão.
Mas não, o menino Jesus lá o vai aguentando ano após ano.
Estou a exagerar? Acha?
Olhe, este ano já enjoei anúncios de Natal na Tv. Sabe em quantos vi o aniversariante? Adivinhe lá… em nenhum, nicles, zeróide , népia, niente , 0.
Em quantos o vi a si? Resmas, paletes, sei lá…
No ano passado cheguei mesmo a exprimir a minha repulsa por um livro de Natal onde você aparecia 12 vezes e o Menino uma só.
É que no início eu até gostei de si: um velhote que distribuía presentes e tal.
Só que depois descobri que afinal a sua versão actual surgiu de uma gigantesca onda publicitária de uma marca de colas (bebidas), que até lhe mudou a cor do seu fato original.
É claro que nós pais também temos a nossa culpa nisto. E não é nada pequena, não senhor.
Levados nesta onda de consumismo, da falta de tempo e mais não sei quê aceitamos muito mais facilmente contar aos nossos filhos a versão do velhote que vem dar prendas só porque sim, do que contar a história do Menino que nasceu para nos salvar e dizer-lhes que o Natal celebra o seu aniversário.
Simplesmente porque a história desse Menino pode fazer com que os nossos pequenos nos perguntem por uma série de valores e atitudes que, se calhar, nós só nos lembramos que existem quando consultamos um dicionário (o que, como se sabe, hoje em dia é muitíssimo comum).
Eu por mim já decidi: você, quando muito, será um pequeno ajudante do Menino Jesus em cada Natal.
Sei que será uma batalha perdida à partida, mas não me importo.
Olhe já agora, quanto ao Menino, se o vir antes deste Natal diga-lhe duas coisas por mim: Obrigado e Parabéns.
Terça-feira, 21 de Novembro de 2006
As coisas cá em casa mudaram um pouquinho.
A bem dizer... um pouquinho quase nada.Em termos de séries de Tv. nada a dizer: "As pistas da Blue " rules !Mesmo que seja o episódio 10 repetido pela 100ª vez. O momento é solene e não pode haver nada a perturbar a concentração da cachopa.Mas, paulatinamente, há uma outra série que vai conquistando a pulso o seu próprio espaço.E vai-o fazendo de forma tão segura que já tivemos que adquirir um dvd.Falo é claro dessa obra prima da animação infantil que é o Ruca.Uma verdadeira obra-prima...Vou dar de barato o facto do puto ter três anos e ser careca de todo, enquanto a irmã, de um ou dois anos, tem uma cabeleira farta. Isso ainda passa...Agora o que não pode passar em claro são aqueles pais.Aqueles pais não existem! Não podem. Aqueles pais são a criação de alguma mente retorcida, nascidos unicamente para nos torturarem a nós (pais verdadeiros), e nos deixarem à beira de uma grave depressão.É que a malvadez é tal que eles nem sequer têm nomes: são o pai e a mãe.Indefinidos, ou seja transmitem aquela mensagem subliminar de que podiam ser qualquer um de nós.O referido casal nunca (NUNCA) "se passa" com o cachopo.Nunca lhe mandam um berro, nunca o põem de castigo, nunca...Pelo contrário têm sempre uma palavra para pacificar, para entender tudo.Não é possível! Não há pais que aguentem esta competição. É impossível!No episódio de hoje o rapazito desata a correr e espalha-se, fazendo uma ferida nos joelhos.Qual foi a reacção da mãe? Esta:- Ó meu fofinho....Deixei de ouvir a partir daqui."Ó meu fofinho"?Mas então a intervenção mais normal não seria:- Vês? Eu bem te disse para não andares sempre a correr e para veres bem por onde andas. E pára de chorar ou ainda levas por cima."Eu acho que isto sim, seria uma reacção normal. Mas se calhar estou enganado...O problema em não adoptar a postura dos pais do Ruca é qualquer dia ter uma pirralha a dizer-me:- Papá, o pai do Ruca não berra por causa dele achar que o lugar da água durante o banho é mais do lado de fora da banheira do que dentro,ou:- Papá, o pai do Ruca não se põe a amarinhar pelas paredes só porque ele achou que a Tv. pintada com lápis de cera e lápis de cor ficava muito mais gira.Não há hipótese: nunca vou ser um pai como o do Ruca .
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006
Devido a circunstâncias várias o almoço de hoje teve que ser no MacDonald´s.
A pequena achou graça aquelas bandeiritas que por lá há para entreter os petizes.
E pediu. Não uma, nem duas, mas três.
Ela deve achar que três é um número jeitosinho.
No regresso para casa ia com uma bandeira em cada mão.
Enquanto as acenava disse-me:
- Qual queres, papá? E(s)ta ou e(s)ta?
E conforme se referia a uma ou a outra levantava-as.
- Olha quero esta.
- E(s)ta não! E(s)ta é minha.
- Então quero esta.
- E(s)ta não. E(s)ta é da mamã!
-.........
É isso filha, tu pões a música e eu danço!
Ser pai é uma alegria, não é?
Quinta-feira, 16 de Novembro de 2006
A marcha do tempo é inexorável, imparável!
Chega mesmo a ser impiedosa.
Tomamos consciência disso, às vezes de uma forma brutal.
Prova disto mesmo é o crescimento dos filhos, com o consequente aumentar da sua capacidade de argumentação:
- Papá, que(r)o bolachinhas do Noddy.
- Ó filha já não temos, acabaram.
Pensei que a coisa ficasse por ali. Engano 1...
- Papá então que(r)o biscoitos da mamã.
Bom eu aqui já comecei a ficar meio zonzo.
Os biscoitos tinham sido uma ideia excelente da mãe (que até a conseguiu pôr a ajudar na confecção dos mesmos), mas que tinham acabado já há semanas. A memória dela é prodigiosa.
Retorqui:
- Ó filhota, já não há biscoitos. Acabaram há muito.
E sorri, convencido que tinha ganho a discussão. Engano 2...
- Papá, então que(r)o bolachas "nomais".
Fui ao tapete.
Como é que um pirralho deste tamanho consegue dar-me luta com três argumentos dentro da mesma temática?
É nestas alturas que sinto o peso dos anos, os cabelos brancos a despontarem, a incapacidade de argumentação tão típica de uma senilidade que se instala lenta, mas seguramente.
Por outro lado há dois pontos bons:
- a miúda é persistente, luta por aquilo que quer e não se deixa derrubar pelos obstáculos que se lhe deparam no caminho;
- o outro ponto é bom... mas não para mim!
É bom para a farmácia cá da terra, porque se isto agora anda assim quero ver como é que daqui a 10 anos vou ter arcaboiço para esgrimir argumentos com ela.
E a farmácia corre o risco de entrar no Guiness à conta dos analgésicos que me vai vender para fazer face às dores de cabeça que a pequena me vai dar...
Segunda-feira, 13 de Novembro de 2006
A madrinha!
A coisa já andava prometida há uns tempos.
Umas vezes por questões laborais, outras por questões pessoais ou ainda por questões climatéricas, o que é facto é que andava a ser adiada.
Mas este sábado (com um tempo a fazer jus à expressão "Verão de S. Martinho") finalmente foram reunidas todas as condições.
Depois da aula de natação que, convém referir, tem vindo a correr cada vez melhor (apesar disto não significar que seja isenta de "percalços") lá se foi entregar a pequena para passar um dia completo com a madrinha.
O meu receio era que a qualquer altura o telefone tocasse para a ir buscar devido a uma crise de choro imparável.
Felizmente tal não sucedeu.
Passeou, almoçou muitíssimo bem, brincou o tempo todo com o meu afilhado e, como não podia deixar de ser, proporcionou momentos de riso com as suas saídas e expressividade.
Foi à praia, encheu-se de areia... chegou exausta, a dormir.
A coisa correu tão bem que já disse que queria mais e ontem à noite fui dar com ela a mexer no telefone. Quando lhe perguntei com quem estava a falar disse:
- Com a mad(r)inha!
Ó Cris... desconfio que, de alguma forma, a pequena sabe que o Natal está a aproximar-se!
Das duas, três:
- ou eu tenho um timing completamente desajustado;
- ou alguma "entidade superior" lá de cima gosta simplesmente de se divertir comigo;
- ou não imponho respeito nenhum à criançada.
E se com a pequenita eu já tinha começado a acostumar-me, confesso que tinha esperança de que com o cachopo a história fosse diferente.
Mas pelos vistos não. Não mesmo...
Pequeno ao colo da mãe, no final da refeição.
Digo eu:
- Olá, Pedro!
Responde ele:
- Prrrrrrrrrrr!
Este hieróglifo pretende ser a onomatopeia de um potente e sonoro flato.
É que foi imediatamente no final da minha pergunta!
Se tivesse sido a meio, ou passado algum tempo, ok, eu ainda me convencia que tinha sido coincidência, mas assim não....
Parecia mesmo a resposta dele à minha chamada.
É de um tipo ficar desanimado.
Eu sei que o vocabulário dele não é muito vasto (passa por variações vocais de garhh e aaaarrggggg), mas acho que podia claramente aspirar a mais que aquela resposta que ele me deu.
Bolas, parece que vou continuar a ter problemas de autoridade.
Safa!...
Quinta-feira, 9 de Novembro de 2006
É só uma pequenina amostra do nosso dia a dia.
Os ingleses têm uma expressão que muito aprecio para isto: "it´s just a glimpse".
Segunda-feira, 6 de Novembro de 2006
Noite de Domingo para Segunda Feira, 0.50h .
A pequena está com tosse há 5 minutos, embora ainda durma.
Não espero mais: vou preparar o material para lhe fazer uma nebulização.
Tudo pronto, vou buscá-la e levo-a ao colo para a sala.
Faço-lhe a nebulização enquanto a mantenho a dormir ao meu colo.
E de repente... dá-se um daqueles "momentos de pai".
Um daqueles momentos em que nos apercebemos verdadeiramente da fragilidade daquele ser que temos nos braços e do quanto ele depende de nós.
Ao mesmo tempo apercebo-me do quanto ela já cresceu. E, curiosamente, tomo consciência do facto ao observar o pezito dela, descalço no meu colo.
Meu Deus, é um pé tão pequeno, mas... caramba já foi tão mais pequeno, tão mais minúsculo. Aquela planta do pé, aqueles deditos já foram tão mais pequenos...
Como cresceu!
É giro observá-lo, uma vez que o pé não é tão facilmente visto como por exemplo as mãos.
E depois vêm aqueles pensamentos mais dolorosos: imagino que cada vez falta menos tempo para ela deixar de ser "só nossa".
Qualquer dia entra-me aí em casa com algum gabiru, daqueles que usam calças com os bolsos pelos joelhos e a exibir os boxers como condecorações de algum feito digno de recordar.
Ó filha... cresce... mas não cresças, percebes?
Quinta-feira, 2 de Novembro de 2006
Uma das coisas que, estou convicto, contribuiu para o "sucesso" da espécie humana neste nosso Planeta Azul foi a sua capacidade de aprendizagem.Neste aspecto um dos métodos que mais aprecio é o de tentativa-erro.E até há pouco considerava-o um dos meus métodos de aprendizagem preferidos em vertentes onde ele é possível de aplicar sem causar danos de maior em caso de erro.Mas, aparentemente, não tenho grandes vantagens na utilização deste método, uma vez que parece que não aprendo.E depois desta experiência eu já tinha obrigação de ter percebido...- Papá, an(d)a fazê um desenho!Bastou isto para os arrepios começaram a percorrer a minha espinha. Mas claro... a coisa só podia piorar:- Faz um papagaio!- Ó filha, um papagaio?- Um pa-pa-gaio, papá. Um papagaio!Ondas de pânico assolam-me.Respiro fundo, concentro-me e começo o esboço.Assim que faço a cabeça e o bico a guilhotina cai, pouco se importando com o dano:- Não é um elefante, papá. Um papagaio, um pa-pa-gaio!Graças a Deus há outras teorias que explicam muito melhor o nosso sucesso enquanto espécie, como por exemplo a teoria da selecção natural.Só que com este incorrer sucessivo nos mesmos erros, desconfio que se vivesse no tempo das cavernas já tinha servido de aperitivo a algum T-Rex mais manhoso...